A virtude da ordem
A virtude da ordem é uma das mais importantes virtudes para a realização do homem, para o desenvolvimento satisfatório de suas aptidões naturais, para sua integração na sociedade e no ambiente de trabalho, para o cumprimento dos seus deveres domésticos, escolares, acadêmicos e profissionais. É essa virtude que lhe permite conhecer-se e superar-se. Mas em que consiste essa virtude capital? Como conquistá-la?
O homem ordenado é senhor de si, investe no autoconhecimento, no planejamento de sua vida, de seu tempo, de suas atividades, organizando-as segundo critérios sólidos de hierarquia e prioridade. Reconhece a sua vocação, os seus talentos e se aplica a desenvolvê-los ao máximo, renunciando com humildade o que esteja fora do seu alcance, mas sem se privar da magnanimidade de perseguir, de forma realista, grandes ideais. Acima de tudo, preza pela harmonia, pela integração das suas atividades, dispondo-as de modo satisfatório e suficiente, conforme o tempo e a energia que demandam.
Em linhas gerais, delineiam-se cinco campos de atividades a serem ordenadas na vida de cada homem , que correspondem a uma constelação de virtudes relacionadas: a religião (virtude da piedade), a família (virtude do amor e da amizade), o trabalho (virtude da laboriosidade), a sociedade (virtude da solidariedade, colaboração, convivência e amizade) e o descanso, esporte e cultura (virtude da convivência, alegria e inteligência).
Ordenar a vida é priorizar e subordinar essas atividades de modo a entregar-se plenamente a cada uma delas, no seu momento respectivo. Um homem feliz é um homem completo, realizado em todos os aspectos que constituem a natureza humana, o físico, o psíquico e o espiritual. Por isso, o homem que busca a plenitude não negligencia as demandas do seu corpo, como as do sono, alimentação e exercício físico, as solicitações da sua alma, emoções e afetos, e do seu espírito, a atração por Deus, pelo absoluto e pelo sagrado que lhe fornece um sentido global e estável da existência.
O homem ordenado cultiva a sua sociabilidade sem descurar da sua interioridade. Rejeitando o egoísmo, não se fecha em si mesmo, pois sabe que depende da comunidade, da família, dos colegas de trabalho, dos amigos de esporte e cultura. Mas sabe também que precisa de momentos de silêncio, de introspecção e reflexão, para não se massificar na multidão e para entender a sua subjetividade.
A virtude da ordem impede as monomanias e os exclusivismos, como a compulsão ao trabalho ou ao prazer. Da mesma forma, a ordem faz com que o homem esteja inteiro em cada coisa, consciente do dever presente, evitando a evasão temporal da ansiedade, a antecipação exagerada do futuro, e da nostalgia, aprisionamento ao passado. Para tanto, é imprescindível o planejamento sensato do tempo, auxiliado por uma agenda e lista de compromissos. O importante é amadurecer com as experiências e reprogramar sempre que necessário, otimizando e aperfeiçoando cada tarefa, com base no espírito de compromisso e eficiência.
Organizar o tempo nunca é perda de tempo, analisando quais são os projetos a longo prazo e os deveres imediatos para realizá-los, a sequência de atos necessários, a conclusão com excelência de cada compromisso. Podem-se traçar metas diárias, semanais, mensais ou anuais, verificando-se o cumprimento e redimensionando o tempo previsto. A pontualidade demonstra a disciplina do homem ordenado, inclusive a precaução contra imprevistos, ao passo que a concentração o livra de distrações voluntárias, como as da internet e as da imaginação dispersiva.
Da mesma forma, a ordem exterior dos objetos reflete a ordem interior do pensamento. O homem ordenado mantém seus objetos pessoais, domésticos e laborais bem organizados, para não perder tempo os procurando. A ordem do espaço é tão importante quanto ao ordem do tempo.
Sem ordem, o homem se dispersa e se perde numa miríade de distrações inúteis que o impedem de realizar os seus objetivos. A pessoa desordenada tende a ser confusa, volúvel, caprichosa e imprevisível, atrapalhando os que dela dependem e boicotando-se a si mesma, não cumprindo seus prazos, desonrando a sua palavra. Em outros termos, não faz o que quer, tem uma vontade fraca e inconstante, não obedecendo a princípios sólidos formadores de seu caráter.
Por outro lado, sem ordem, a sociedade é injusta e afoga-se no caos da rivalidade dos que querem ocupar o lugar dos outros, dos que desviam a finalidade de suas funções, tergiversam para se beneficiar do que não merecem. Isso é a causa das desavenças e intrigas em geral e do desrespeito das leis morais e jurídicas que regem a vida em sociedade.
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